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06/09/2010

Onde é que você gasta seu tempo?

Onde é que você gasta o seu tempo? O que é essencial ou acidental em você? Onde é que você derrama a sua vida?

Amar é doer o tempo todo. Você ama um filho e sabe que ele precisa ir para a escola, mesmo que ele fique lá gritando e você saia chorando, porque ele precisa se desprender de você. Na minha infância, eu fazia xixi na calças na escola só para ir para casa ficar com minha mãe. Até que no quarto dia a professora disse que tinha providenciado uma cuequinha. Ali foi o momento em que eu aprendi a perder.
Você mãe tem dor de parto para trazer seu filho ao mundo. Mas você vai "parturir" esse menino o tempo todo. Mãe que não sabe perder, não sabe educar o filho. Digo tudo isso para falar da sarça ardente e da ordem de Jesus sobre a travessia rumo à nossa conversão.
Moisés reconhece a missão de levar o povo a passar pelo deserto. E vê uma sarça que queima sem se consumir. Mas ele tem consciência de aquele momento é acidental em sua vida. Deus poderia ter se manifestado de outra forma. Acidental é aquilo que poderia ser diferente, que não faz falta, que com a ausência a vida continuaria do mesmo jeito.
Voltamos à música. "Eu só peço a Deus que a dor não me seja indiferente, que a morte não me encontre um dia solitário sem ter feito o que eu queria".
A morte teria encontrado Moisés se ele pensasse que na sarça ele tinha visto tudo. Deus não nos entrega nada para que isso morra, mas para ser multiplicado. Qualquer experiência humana não termina ali, mas sempre tem um algo a mais.
Sarças podem arder tanto para encantar, como para desesperar, quando você viveu aquele momento de dor e disse que era demais, que não iria suportar. "Não vejo outra perspectiva, não vejo solução". Mas você fez um desafio a si mesmo e não ficou parado com a sarça.
A vida, às vezes, nos faz parar para ver a sua beleza, mas também a sua tragédia. E nada pode nos parar. É a junção do calvário e sepulcro vazio que dão sentido à nossa vida. O que vai fazer a diferença é o modo como você encara o momento que vive.
A vida é inteligente o tempo todo. A morte é um processo natural de dar lugar ao outro. Está certo que a gente ama, mas você não pode ficar parado. Não pare naquele momento, porque o definitivo é destrutivo sempre. O definitivo chama-se inferno e quem cai no definitivo corre o risco da arrogância. Amor sobrevive daquilo que não sabemos do outro, mas desconfiamos, estamos descobrindo a cada dia.
"Essa festa está tão boa que eu não queria que acabasse". Mentira! Já está na hora de ir embora. O resto da vida é tempo demais. O pôr do sol só é bonito porque está acabando. Se não fosse passageiro não iríamos prestar atenção nele, pois estaria ali toda hora.
Deus nos indica um caminho a percorrer. O que Jesus nos fala é: "Corra atrás do que está em você. Dentro de você há tantos lugares para chegar, tanto pôr do sol. No lugar da trovoada também ter pôr do sol". Você não nasceu para o definitivo das tragédias.
Religião é antes de qualquer coisa a mistura do sagrado e divino em nós. Conheça o que você é, porque assim você saberá trabalhar melhor com você mesmo. Nós queremos conhecer o outro, mas não queremos conhecer a nós mesmos. É luta o tempo todo. Você vai ver o que é atraente, mas também os seus espinhos. E fazer a experiência de caminhar no deserto e ir além.
E se Jesus perguntar quem é você? O que você tem feito da sua vida? O que você tem permitido que os outros façam da sua vida? O que na sua vida é essencial? Onde você gasta os seus dias, as suas horas?
A gente está lidando o tempo todo com "abelhas" que nos rondam o tempo todo para extrair alguma coisa de nós. O que sai? Mel ou fel? É muito fácil produzir mel quando tudo está favorável a nós. Mas o desafio está em dar testemunho da nossa fé quando tudo está desarrumado e proclamá-la para aquele que nos fez "descer da árvore".
Você quer ser feliz, acertar, mas corre o risco de chegar lá e dar conta de que não deu certo. Só chega lá quem toma a disciplina de não desistir.
O que você gostaria de fazer? O que você gostaria de sonhar diferente? Se hoje você morresse, quais sonhos morreriam junto com você?
Só sobrevive no deserto quem se planeja para fazer uma travessia segura. A coisa mais fácil é perder o rumo da vida, gente. Basta uma luz no foco errado. Cuidado com tudo aquilo que brilha demais, que é muito artificial.
Nunca vi um rapaz chorando porque não ganhou o iate que queria. Mas já vi muitos rapazes chorando sem terem coragem de contar que queriam se sentir amados. A falta de amor faz chorar, destrói. Amor é essencial. E muitas vezes nos prendemos para dar aos filhos o que é acidental.
Nós só conseguimos suportar a travessia do deserto se estivermos agrupados. Ninguém chega ao céu ou ao inferno sozinho. Sempre estamos agrupados.
Essa música é diferente da outra e nos dá esperança: "Eu preciso de Ti, meu Senhor. Quero caminhar contigo e não mais andar sozinho. Eu preciso de Ti".

Padre Fabio de Melo




Se quiser ir longe segure nas mãos desse Deus, que se oferece na Eucaristia.

A autossuficiência

O afeto das pessoas se conquista com os gestos simples

No mundo da ciência e da tecnologia, a palavra de ordem que comanda é a "perfeição", a alta definição.
Acontece que isso não satisfaz às exigências dos seus destinatários, isto é, a realização da felicidade da realidade social. As pessoas não têm sido mais felizes por isso. É sinal de que algo não está totalmente certo e perfeito.
De outro lado, temos os indicativos precisos da Palavra de Deus. Jesus convida as pessoas para que deixem a arrogância, a autossuficiência, o querer ocupar os primeiros lugares e o ser melhores do que os outros. A forma de ser feliz passa por outros caminhos, pela prática da sabedoria e da gratuidade.
Não podemos nos conformar com uma cultura de "qualidade total" no seu instrumental de ação deixando na marginalidade os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos e desvalidos de hoje. Um tempo de prosperidade e de desenvolvimento não pode ser excludente a ponto de privilegiar alguns e não levar em conta a maioria da população.
Um mundo de igualdade, apesar dos direitos individuais adquiridos honestamente, leva a superar as desigualdades e a competição social existente.
Não é fácil entender e praticar a proposta do Evangelho quando diz que "o primeiro é aquele que serve, o maior é o último". Nestas atitudes estão os autênticos valores para o cristão.
A sociedade capitalista vive num intercâmbio de favores. Ela negocia com quem é capaz de competir, deixando de lado o valor da gratuidade, do perdão a quem não pode pagar e da realidade do pobre. Esses últimos não têm lugar à mesa da classe abastada e privilegiada na posse de bens materiais.
O importante é viver com sabedoria, confiante em Deus e na humildade de coração. O afeto das pessoas e de Deus se conquista com os gestos simples de humildade, muito mais do que com presentes valiosos, mas sem a força do amor e da espiritualidade. Isso significa que os mistérios de Deus são revelados aos simples e não aos orgulhosos e autossuficientes.

Visão doentia de Deus gera um ser humano doente.

A falsa ideia de Deus, a visão distorcida e doentia de Deus deixa o ser humano doente. Aqui está a razão de haver tantas pessoas doentes no mundo. Quando se tem uma imagem distorcida de Deus, a primeira coisa que faço é me distanciar d’Ele; quando me distancio, está aí decretado o meu fracasso em todas as áreas da minha vida.




A imagem distorcida dos fariseus acerca de Deus faz com que estejam doentes e queiram, em suas atitudes, adoecer outros por causa de suas normas e princípios estúpidos. Jesus repudia completamente tudo isso, mostrando que o deus deles não é o Deus verdadeiro, revelado por Ele – Cristo.



Jesus é incisivo: o Sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. Visão distorcida de Deus: este é o grande problema que existe em nossa vida. Quantos de nós não conseguimos crescer na vida pelo fato de não conseguirmos criar comunhão com o Senhor, pois achamos que Ele é um ser distante, totalmente indiferente à nossa vida, mas muito ocupado em ver nossos erros, para, no momento oportuno, nos dar o castigo que merecemos, por termos feito coisas erradas. Agora, se fizermos algo certo, nada fizemos além de nossa obrigação. Que visão doentia de Deus… que fonte – esta visão – de cisão para a vida humana.



Compreendamos definitivamente uma coisa, meus irmãos e irmãs: Deus nos ama por aquilo que somos e não por aquilo que fazemos. Se o Altíssimo se entristece – e Ele se entristece – não é porque fizemos coisas erradas, pois o mal não O atinge; Ele se entristece pelo fato de Seus filhos estarem tristes. Deus se alegra pelo fato de Seus filhos estarem alegres.



Somos amados por aquilo que somos. E o que somos? Filhos e filhas amados de Deus! O Senhor nos pôs como administradores da criação e não como escravos dela. A lei acerca do sábado é um reflexo da distorção do coração dos fariseus; muitas vezes, o nosso coração também é fariseu, ou seja, achamos que Deus vai nos amar pelas coisas boas que viermos a fazer. Não! Deus Pai não vai nos amar ; Ele já nos ama desde de toda a eternidade!



Este amor é explicado de forma surpreendente na parábola do filho pródigo. Não é o filho quem vê o Pai, mas o Pai quem vê o filho de longe; corre ao seu encontro e o abraça, enchendo-o de beijos. O Pai aperta o filho não perguntando o que fez e por que o fez, mas o aperta em seus braços, abraçando o filho que acaba de voltar, expressando um coração misericordioso e saudoso.



O Pai ama o filho e não quer saber o que ele fez, mas quer saber da sua atitude, atitude de volta, de retorno, de arrependimento. É isso que conta para o coração do Pai. Quando nos vemos da mesma forma como Deus nos vê, passamos a vê-Lo de forma correta; como consequência, passamos a ver os outros e a nós mesmos com dignidade e misericórdia; caso contrário, com uma visão destorcida acerca de Deus, de nós e dos outros, nos tornamos insensíveis, nos tornamos “um trator” na vida dos outros, ou seja, atropelamos os outros sem dó nem piedade.



Padre Pacheco

Comunidade Canção Nova
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